Estrela de hoje: Oxossi, o Caçador de Almas
Como sempre, aí vão os tópicos preliminares!
Antes de passarmos ao texto do Téo, gostaria de fazer alguns esclarecimentos:
- De modo geral, na Umbanda, e especialmente no Cabocla Jurema, não acreditamos que os Orixás sejam deuses, tal como ocorre no Candomblé. Portanto, não os cultuamos de tal forma. Acreditamos que eles são representantes dessas energias/vibrações divinas e se expressam através das mesmas.
- Muito gentilmente, o Téo disponibilizou seu email para possíveis dúvidas: teofiloneves@gmail.com. Desta forma, gostaria de pedir a quem fizer uso desta ferramenta que tenha bom senso. Afinal, este também é seu email profissional. De preferência, identifiquem o email em "assunto".
- Segue abaixo um "mapa" dos 7 Chákras principais e os Orixás correspondentes. Lembrando que a cor na imagem não representa a cor do chákra, mas sim a cor do orixá representante.
LEMBRANDO QUE:
- Aqui não há espaço para intolerância. Vc pode (e deve!) discordar. Porém, como este não é um espaço para debate, guardemos isto para um espaço conveniente.
- Perguntas são muito bem vindas (que responderei à medida do que eu conseguir).
- As práticas e percepções da Umbanda podem variar entre os diferentes terreiros.
- Os textos aqui divulgados são de autoria de Teófilo Alves Neves que, indubitavelmente é inspirado pela Espiritualidade Amiga e serão transcritos na íntegra como me foram passados.
- Os textos que serão publicados com este tema não têm o menor objetivo de "converter fiéis". Não acreditamos neste tipo de fé, mas sim em uma fé baseada na razão. O objetivo é divulgar uma Doutrina belíssima, que é baseada na paz, no amor e na caridade, mas que ainda é pouco conhecida e que, infelizmente, sofre com pré-conceitos.
- Por não serem textos apenas para os crentes nessa Dourina, é uma fonte interessante para aqueles que querem apenas matar a curiosidade
OXOSSI
Okê, Caboclo!!!
É sob esse brado contundente que o terreiro Cabocla Jurema saúda, tradicionalmente, este Orixá dos mais cultuados do Brasil.
O mito yorubano de Oshocê se aporta em terras brasileiras sob o manto de “O Caçador”, o Orishá que domina o que podemos chamar de fauna e possibilita a sorte e fartura na caçada. De caráter recluso e pensativo, se esconde em meio às matas donde manejava sua força e sua sabedoria, não sendo muito dado ao convívio com os demais orixás, pois a mata para Oshocê é local de energismo e reflexão, onde sua pujança e vitalidade precisam estar balanceadas para que a natureza esteja perfeita em seu eterno ciclo de “cadeia alimentar”. O alimento que o “Rei das Matas” concedia àqueles que adentravam respeitosamente o seu reino era uma dádiva. Já quem desrespeitasse suas leis de preservação não teria sorte na caçada (podendo tornar-se a caça) ou lá se perderiam em seus labirintos de árvores. Pelo risco era mais que necessária Sua proteção!
Por outro lado, a voz de Oshocê na mata era a absoluta intervenção, sendo capaz de resgatar e guiar tanto os encarnados como os desencarnados perdidos em suas próprias trevas interiores de dor e arrependimento. Não por acaso a saudação mais comum nos cultos de origem africana é Okê Arô, que traduz-se como “respeito àquele que brada”. Ante a tão imensa floresta, verdadeiro santuário da vida que abundava-se nestas “Terras do Cruzeiro Divino”, foi automática a manutenção da crença no Brasil.
Um dos mais eficientes meios da caçada em mata era o arco e flecha e nesse símbolo identifica-se este trono em diversas formas de representação religiosa, seja no candomblé seja na Umbanda. Inclusive, é este o elemento conectivo do sincretismo existente com o Catolicismo, pois é o fato de ter o corpo cravado de flechas que São Sebastião foi chamado pelos negros de Oshocê. E é aí que seu culto se torna um dos mais populares do Brasil, pois São Sebastião é padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, que por sua vez foi capital federal de 1621 a 1960, nada menos que 339 anos, cidade que é o berço mais maciço do surgimento da Umbanda, enquanto movimento religioso assim denominado, quando da apresentação do Caboclo das Sete Encruzilhadas em 1908(na cidade vizinha de Niterói).
Na Umbanda, pelo vínculo a Oxossi ter relações com as matas, este Orixá foi assumindo formatações indígenas, distanciando popularmente do esteriótipo do Orishá yorubano e admitindo acepções dos espíritos ancestrais ameríndios, fato que justifica a denominação de “caboclos”, generalizada na Umbanda a todos espíritos que se portem de maneira ereta e voz firme, mas que especificamente se remete à Oxossi.
Dentro do culto professado pelo Centro Espírita Cabocla Jurema, há muito que se pode aprender com as estórias contadas do Orishá Oshocê em sua origem yorubana, visto que em sua síntese é para nós a vibração do Conhecimento.
O que é o conhecimento senão a busca por respostas. A edificação de nossa consciência. E o que é consciência se não o juízo que fazemos de nós enquanto indivíduo. E o que somos nós senão sentimentos e pensamentos.
Oxossi se abriga na mata não porque gosta de estar recluso, mas porque “precisa”. Nós precisamos consultar a nossa consciência, acalmar nossos ânimos, refletir sobre nossos pensamentos mais íntimos antes de nos posicionarmos. Antes de “bradarmos na mata” é preciso saber onde estamos.
A mesma mata que te esconde é a que oferece os riscos do caminho. A mata representa nossa selva interior. Nossos sentimentos e pensamentos todos juntos. Ela pode funcionar como um labirinto escuro de umidade sufocante ou como ar que limpa nossos pulmões e nos reenergiza. Oxossi é quem tem habilidades para andar nessas matas, pois “Caboclo não tem caminho para caminhar”. É na mata escura que Oxossi, com o seu brado empunha sua vibração e age como o “Caçador de Almas”, flechando-nos em nossas mazelas desequilibrantes.
Os caboclos e caboclas dessa vibração atuam levantando a energia das matas de modo a nos impor a reflexão. Hora nos chamando à razão, hora nos amansando nossos ímpetos. E nesse fluxo de razão e emoção vai acertando cada uma de nossas mazelas mais infelizes, possibilitando divisarmos o conhecimento.
A mata ou a floresta para Oxossi vai além dos diversos simbolismos que apresentamos acima, é a própria energia manifesta da vida. Traduz-se como o Santuário Natural de vitalidade desta vibração, de modo que concentra os quatro elementos básicos da magia: terra, água, ar e fogo. Cada seiva de árvore, cada aroma, cada néctar tem em si parte dessas forças vitalizadas pela vida primitiva que nela impera.
Disto, o Centro Espírita Cabocla Jurema entende que esses conceitos colocam a vibração de Oxossi vinculada ao Chakra Laríngeo, o nosso centro energético de comunicação.
Primeiramente, é importante lembrar que entendemos existirem sete chakras principais e esses se relacionam com as sete linhas originais de Umbanda. No estudo dos chakras temos que os quatro primeiros, chamados de inferiores (de baixo pra cima: básico, sacral, plexo e cardíaco), manipulam energias e pensamentos mais emocionais e vinculados com a materialidade animal humana e suas necessidades biológicas, como veremos nos capítulos seguintes. Já os três superiores (de baixo pra cima: laríngeo, frontal e coronário), sintonizam-se com nossas manifestações mais mentais ou espirituais. Nestas observações não queremos caracterizar a existência de chakras melhores ou piores e sim que cada um tem sua importância na densidade vibracional em que se sintonizam.
Continuando, é função essencial do chakra laríngeo servir de intermediário entre nossas manifestações emocionais (dos quatro chakras inferiores) e racionais (dos outros dois chakras superiores), agindo de modo que nossa consciência se faça expressar. Age como o centro energético do “meio”, cabendo-lhe filtrar nosso impulsos, sejam racionais ou emocionais, sopesando em nossas atitudes. Com isso, temos que é o chacra da comunicação, pois é por ele que fluem nossa maneira de expressarmo-nos: seja escrita, verbal, gestual etc.
Este chakra apresenta duas características muito marcantes de seu desequilíbrio. A primeira bloqueia nossa capacidade de expressar nosso sentimento, impedindo o fluxo de nosso comportamento mais emocional, caso em que há prevalência de vibrações mais mentais desequilibradas. Coloca-nos, assim, de maneira mais fria e distante das pessoas e situações que nos envolvem, agindo de forma mais ríspida e dura.
A segunda, ao contrário, bloqueia nossas percepções mais racionais fazendo imperar em nós a agonia pela explosão de emoções que nos dominam, não sendo capazes de medirmos nossas paixões e a intensidade com que nos comportamos. Nossa língua vira uma verdadeira metralhadora de impropérios capaz de falar de “amor” ao mesmo tempo que incita o ódio mais mortífero.
Em ambos os casos a sensação energética repassada pelo chakra aos órgãos que coordena no corpo físico é de sufocamento. Um porque fala indevidamente deixando uma carga desequilibrada acumular, o outro porque não fala, represando as emoções.
A cor vibracional do chakra é o azul-claro ou turqueza quando em equilíbrio.
Assim, a vibração original de Oxossi é a que nos guia à reflexão pelo conhecimento. Mais precisamente pelo autoconhecimento. Somente com uma consciência hígida somos capazes de sermos felizes ante a nossos defeitos. É a verdadeira acepção da máxima filosófica “conheça-te a ti mesmo”, tão asseverada pela doutrina espírita.
Essa é a bandeira maior da Casa Cabocla Jurema, sendo o norte máximo pelo qual se processam todos os tratamentos manejados no terreiro. Sejam as palestras, os passes magnéticos, as consultas com a espiritualidade; sejam as desobsessões, os atendimentos fraterno ou de “cura”; todos os passos da Casa são regidos por essa máxima.
E quem é cabocla Jurema? Cabocla Jurema é um espírito de altíssimo grau de evolução, a ponto de não ser possível sua manifestação direta pelos médiuns do terreiro, responsável pelos direcionamentos superiores da casa e que vibra na vibração original de Oxossi. Salientamos que, por ser um nome muito comum na Umbanda, referimo-nos especificamente ao espírito que rege nosso terreiro.
Dentro de uma concepção astrológica de Umbanda Oxossi, se faz representado pelo planeta Mercúrio, exatamente por ser este um astro de muita vitalidade e por sua representação com o deus greco-romano da comunicação e do comércio.
Na tradição do Centro Espírita Cabocla Jurema suas velas e cores representam-se pela cor verde, referência às matas e à necessidade de Conhecimento.
Goiânia, 06 de fevereiro de 2017.