Essa semana um amigo me marcou em um link relacionado à EM.
E eu pensei: Que legal! Ele sabe! Deve ler o blog. Deve ter gostado. De certo, agora, quando lê alguma coisa a respeito, deve se lembrar de mim.
E nos tempos atuais, quando alguém te marca em alguma publicação, não é um indício bonitinho de que a pessoa pensou em vc?
E percebendo como aquela atitude é legal, fiz um textão no Facebook... rs
Mas esse texto não foi bem elaborado, não foi feito com calma. Então senti a necessidade de fazê-lo aqui.
Em primeiro lugar, eu acho muito massa as matérias e links que as pessoas me marcam. São sempre informações legais, novas, ou divulgação de eventos, "terapias alternativas", etc.
Mas outra coisa muito legal é a "coragem" dessas pessoas ao falarem abertamente comigo sobre o assunto. Eu passei a admirar pessoas que aceitam a verdade (não só essa "minha verdade"). Eu admiro as pessoas que não ficam cheias de dedos para falar comigo ou, pior!, ignoram o assunto.
Veja bem, não quero ser tratada como esclerosada-coitada. Mas eu não vejo motivos para:
1. Esconder que sou portadora de EM;
2. Desrespeitar os limites que tenho por causa da EM;
Por exemplo, ano passado, eu, o Tiago e alguns amigos que vieram de Belém fomos para Pirenópolis e escolhemos visitar a Cachoeira do Abade. Muito legal. Mas na hora da escolha: "Mel, existem duas trilhas, uma maior outra menor. Dá pra gente ir?". Eu estava tão empolgada quanto os demais. Aceitei o desafio! Cada um foi no seu ritmo. Um grupo maior na frente, eu e o Tiago um tanto mais atrás. Mas foi ótimo. E nos pontos "especiais" da trilha o pessoal parava para admirar e nos esperava para as fotos. Foi show!
A caminho de Piri: Eu, Gilberto, Sara, Bruno, Tiago
Foto: Gilberto
Modelos: Bruno, Tiago, Eu e Sara
E como este, existem outros exemplos, nos quais eu não posso e nem quero deixar de levar minha saúde em consideração.
Voltando à "coragem" dessas pessoas...
Coragem sim, porque para nós, humanos, a reprovação é uma regra geral. Além disso, existe aquela disputa pelo "quem se importa menos". Então, quando uma pessoa escolhe tratar a mim e a minha EM como algo normal, eu sei que aquela pessoa travou (evenceu) a batalha, nem que por uma fração de segundo, do tal "será que pega mal?". E assim, ela resolveu se importar. Não no sentido de ligar sempre, fazer orações, ser um fiel ombro amigo. Mas no sentido de "dentro das minhas limitações, te aceito tal qual vc é".
Durante e após meu diagnóstico, algumas pessoas de convívio próximo resolveram ignorar o fato. E não é tipo "eu não acredito que vc não consiga fazer uma trilha de 2,5km". É ignorar no sentido de fingir que nada está acontecendo. De não acreditar no diagnóstico. De teimar que o médico está errado.
Pra vcs, um recado: Migo, apenas pare. Tá feio! (E chato...)
Outras pessoas desmarcaram "compromissos" comigo com uma desculpa esfarrapara ou, pior!, sem dar uma justificativa. Alguns "amigos" sumiram, Alguns familiares acharam que convinha fazer piada...
Todos estes (e vários outros) relatos me mostraram o quanto as pessoas têm medo de se envolver, de se posicionar, de ter empatia. Medo de dizer que não é "moreninho", nem "fortinho", nem "afeminado". Medo de aceitar que eu tenho EM e estou pouco me importando em falar sobre isso como algo normal. Normal???? Sim, gente! Normal. É raro? Sim. Mas se acontece... é normal. Tem que ser normal! Para o bem estar do paciente e seus familiares.
Eu sou portadora de Esclerose Múltipla e em poucos aspectos isso faz de mim uma pessoa diferente.
Eu acho, inclusive, que um pouco do medo mora em conviver com essas "minorias", com essas "ovelhas negras", com esses "diferentões". Por quê? Tenho cá meus motivos:
1. "Vai que eu fico diferentão também..."
2. "Vai que andando com esse povo, eu fico falado também..."
2. Ao conviver com esses "maculados" as pessoas conviverão também com a dor deles. A dor do viadinho, do negão, do leproso, da sapata, do deficiente mental... E ao conviver, convive-se também com a realidade desses "desgraçados". Não dá mais pra julgar e apontar o dedo como antes, não dá mais para ver a dor de alguém próximo sem sentir essa dor também.
Então, apenas parem.
Os NEGROS, os GORDOS, os GAYS/HOMOAFETIVOS, os ESCLEROSADOS agradecem!
Minha mãe sempre diz: cada um dá aquilo que tem.
Se vc não tem amor, vc não consegue amar ninguém.
Se vc não têm paciência, vc não consegue ser paciente.
Se vc não tem conhecimento, vc não consegue passar no teste.
Se vc não tem dinheiro, vc não consegue pagar as coisas.
E por aí vai.
Se vc não consegue lidar e conviver com o próximo, realmente não tem como exigir isso de vc.
Mas existem duas coisas que valem a pena serem pontuadas:
1. Se vc não gosta das mana, das mona, das mina, dos bródi, dos preto, dos favelados... sai de perto. Em silêncio. Apenas.
2, Se vc não tem amor, paciência, conhecimento, realmente não faz sentido que alguém espere isso de vc. Mas e vc, o que espera de vc mesmo? Quer continuar sendo essa pessoa estagnada? Porque uma coisa é fato: quando a gente aprende a conviver com as diferenças, a gente sofre menos. Não é o outro que merece que eu o deixe em paz. Sou eu que mereço me sentir em paz.
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