

😂
Bom, não vou fingir que não esqueci novamente, porque eu esqueci!
Mas estou de volta com nosso estudo. Chegamos ao nosso penúltimo Orixá e seu chácra correspondente: Ogum, a diplomática. Criadora de oportunidades. Sensual.
Sensual? Sim! Mas vamos aprender que sensualidade tem muito mais do apenas a atração sexual.
Bora lá?
Mas antes...
- De modo geral, na Umbanda, e especialmente no Cabocla Jurema, não acreditamos que os Orixás sejam deuses, tal como ocorre no Candomblé. Portanto, não os cultuamos de tal forma. Acreditamos que eles são representantes dessas energias/vibrações divinas e se expressam através das mesmas.
- Muito gentilmente, o Téo disponibilizou seu email para possíveis dúvidas: teofiloneves@gmail.com. Desta forma, gostaria de pedir a quem fizer uso desta ferramenta que tenha bom senso. Afinal, este também é seu email profissional. De preferência, identifiquem o email em "assunto".
- Segue abaixo um "mapa" dos 7 Chákras principais e os Orixás correspondentes. Lembrando que a cor na imagem não representa a cor do chákra, mas sim a cor do orixá representante.
LEMBRANDO QUE:
- Aqui não há espaço para intolerância. Vc pode (e deve!) discordar. Porém, como este não é um espaço para debate, guardemos isto para um espaço conveniente.
- Perguntas são muito bem vindas (que responderei à medida do que eu conseguir).
- As práticas e percepções da Umbanda podem variar entre os diferentes terreiros.
- Os textos aqui divulgados são de autoria de Teófilo Alves Neves que, indubitavelmente é inspirado pela Espiritualidade Amiga e serão transcritos na íntegra como me foram passados.
- Os textos que serão publicados com este tema não têm o menor objetivo de "converter fiéis". Não acreditamos neste tipo de fé, mas sim em uma fé baseada na razão. O objetivo é divulgar uma Doutrina belíssima, que é baseada na paz, no amor e na caridade, mas que ainda é pouco conhecida e que, infelizmente, sofre com pré-conceitos.
- Por não serem textos apenas para os crentes nessa Dourina, é uma fonte interessante para aqueles que querem apenas matar a curiosidade.
OXUM
Chegamos, enfim, a Oxum, talvez a vibração Orixá mais intrigante. Confesso, de antemão, que para mim foi a que demandou maior estudo para compreendê-la de modo a alcançar com tranquilidade seu caráter divino face às deturpações de entendimento nos mitos e nas religiões, por isso, temo que este resumo se estenda mais que o normal para que extirpemos as confusões.
São muitos os mitos yorubanos que cercam a figura do feminino¹, mas o da Orishá Osún é um dos que mais se direcionam para um fundamento de síntese de Umbanda e que melhor dá suporte para tratarmos desta sexta vibração de nossos estudos. Osún é filha de Yemanjá e Oshalá e tem seu santuário nas águas dos rios e cachoeiras. É sempre muito sensual e insinuosa, assim como os rios que a representam. Conhecida por seus adornos de ouro e pelo espelho que carrega. Sua beleza juvenil é incomparável assim como sua enorme capacidade de diplomacia. Temos que Osún é uma das três esposas de Shangô e dentre elas a que não ia para suas batalhas, por isso, ficava a cuidar dos filhos de Xangô, mesmo os que não eram seus. Em outras narrativas temos que ela era a única orishá a conseguir acesso com os orishás em momentos de conflito, como o violento Ògún, o distante Oshocê e o inflexível Shangô.
Dada uma breve exposição de alguns dos muitos mitos sobre Osún, podemos sintetizá-la em algumas características: beleza, sensualidade e diplomacia. São com essas ferramentas que Oxum tudo consegue, tal qual os rios transpõem seus desafios: vencendo o fogo, cortando a floresta e envolvendo pedreiras.
Antes de prosseguirmos, pode-se questionar que em momento algum fiz menção ao amor, tão presente quando se vai falar de Oxum, pois bem, como já explicado no capítulo sobre Yemanjá, não utilizo a expressão “amor” quando da descrição e esclarecimentos sobre os Orixás por tratar-se de um conceito genérico e, na melhor acepção, só faz síntese para o que é Zâmbi/Tupã/Olorum/Yahweh/O Grande/Deus.
Retomando, mas ainda sobre mitos, temos no culto Greco a reverência fortíssima à deusa Afrodite, representada pelos romanos como Vênus, e que também traz essa representação da sensualidade, beleza e diplomacia. Percebam que os elementos marcantes desta vibração, a qual o Terreiro Cabocla Jurema denomina de Oxum, permeiam a religião e a cultura de diversos povos em diversos lugares do planeta.
Direcionando nossas atenções ao estudo dos chácras nos deparamos com o Sacral, também conhecido como Umbilical ou Sexual, como ponto de maior concentração de Oxum em nosso organismo bioenergético. Este centro de força está posicionado na região do umbigo, vibrando positivamente na cor laranja, é um centro de enorme manifestação energética visto que a energia sexual é das mais densas e com maior poder de nos movimentar. Daí precisarmos ter muita atenção para entender o seu alcance. O Sacral é o principal responsável, por exemplo, em orientar nossos órgãos de função sexual: útero, ovários, testículos, próstata etc. Assim, está conectado com a capacidade humana de geração da vida. Imaginemos nós quantas transformações físicas não são necessárias para que o corpo da mulher se torne capaz de, após a fecundação, fornecer condições orgânicas para que um embrião se transforme em feto e, após, em um bebê! Se essas transformações demandam uma enorme carga de energia advinda dos hormônios o que dirá de tudo isso na contraparte astral! É sob o controle do Sacral que ocorre a maturação dos órgãos sexuais, portanto, o chamado processo de adolescência, no qual uma profusão inigualável de hormônios transformam crianças em adultos, prontos para reproduzir.
Alerto ao fato de que até agora nos limitamos a apresentar sua atuação na esfera mais orgânica(encarnada) da existência humana, mas não se limita a isso, muito pelo contrário, estas são algumas das expressões que marcam esse chácra, sendo função dele, também, nos desperta para a criatividade e para a alegria. A mesma força da geração que cria a vida nos move para a criatividade.
Podemos definir este chácra como o responsável pela nossa capacidade de interação interpessoal, ou seja, como nossa capacidade de acessar as pessoas, conhecê-las, interagir com o outro. É aqui que reside o conceito de sensualidade tão informado pelos mitos. Ser sensual², nos termos que estamos defendendo sobre o Orixá e sua manifestação, não se restringe ao entendimento de se movimentar para o sexo, mas é muito mais que isso, é a capacidade de nos direcionarmos ao outro e interagirmos com ele. Ao contornarmos nossa vaidade e orgulho rompemos a timidez e abrirmos portas de conversação com alguém, estabelecemos pontes de contato.
Vejamos que, não por acaso, é na adolescência que se opera um movimento comportamental no qual o individuo passa a entregar mais valor às suas relações extrafamiliares, desapegando um pouco das suas relações básicas (pais, irmãos, etc.). O contato mais intenso com as amizades é um efeito natural da maturação física dos órgãos sexuais operados pelo chácra Sacral.
A intensidade com que vibra este chácra promove trocas energéticas intensas ante à interação que promove com os outros indivíduos. Ele entrega energia, mas também a absorve. No sistema chácra, os frutos desses contatos podem ser tanto positivos como negativos. O dinamismo e alegria com que se manifesta pode, em outras situações, entregar acepções tristes e carregadas. Tudo isso em razão do conjunto denso de energias emocionais que maneja ao envolver, transformar e criar.
Com esse enorme poder de transformação se estiver em desequilíbrio por baixa frequência energética torna a pessoa desatenta e com pouca capacidade de expandirse em coletividade, por outro lado, se o desequilíbrio for por excesso danoso de energias, ensejará uma sexualidade desregrada e perniciosa, de constante apelo à forma estética material e ao sexo, como maneira de controle das pessoas a fim de alcançar seus objetivos, ou também uma necessidade inconsequente de adentrar nas vidas das pessoas, num comportamento que podemos resumir como de “fofoqueiro”.
Assim, está em Oxum a força que nos entrega a aptidão de envolvimento. Existem pessoas que ao falar conseguem ser envolventes, sedutores. E, repito, não limitemos os conceitos à questão meramente de sedução sexual. Neste envolvimento está a diplomacia, que consegue abrir caminhos sutis onde até então só teriam conflitos. É o poder de abrir oportunidades onde só havia confronto e defensiva. E o que envolve contorna o oposto, mas não lhe confronta e desta forma faz-se admirável, belo. Esta é a beleza do ouro de Oxum!
A vida é cheia de momentos em que parecem que não há oportunidades e que as portas estão fechadas, é aqui que deve imperar a força de Oxum, gerando oportunidades. Este é o solo fértil para a criatividade que nasce para contornar os problemas. Esta energia é alegre e contagiante tendo condão de fazer da adversidade a oportunidade, da tristeza a alegria, do desagradável a beleza.
Façamos aqui uma observação importante de diferenciação: a porta de entrada das energias emocionais densas de interação é pelo chácra Sacral, mas a forma como nós iremos percebê-la, em forma de sentimento, opera-se pelo chácra Cardíaco. Em sentido contrário, o conteúdo emocional denso que nós repassamos a alguém pelo Sacral fora antes processado pelo Cardíaco. Uma coisa é o envolvimento de Oxum, outra coisa é o acolhimento de Yemanjá. Oxum movimenta forças para trazer, mas é em Yemanjá que ela se confirma, se estabelece. Uma coisa é a pessoa que se apresenta educada e polida para agradar e quebrar as barreiras de contato, outra coisa é a pessoa que tem afeto porque respeita e aceita o outro como é. Uma coisa é ser sensual outra é ser afetuoso.
Para sermos mais profundos nessa diferenciação temos que, assim como no capítulo anterior dissemos Orixalá/Fé se concretiza em Ogum/Ordem, entendemos que Yemanja/Afeto/Compaixão se concretiza em Oxum/Envolvimento/Geração. Lembre-se que a atuação dos Orixás é sempre conjunta, bem como dos chácras!
Outra observação deve ser feita quanto a água. Pois bem, em regra, é em Yemanjá que há a regência desse elemento. Em Oxum, quase sempre, a referência a água é alegórica com o fim de mostrar a flexibilidade com que esta vibração opera, contornando os desafios com graça e possibilitando uma poderosa energia de movimento tal qual as cachoeiras, que fazem de um precipício uma oportunidade para um momento belíssimo e encantador.
O elemento de atuação mais concentrado de Oxum está no ar. O ar que leva e traz. O ar que é ágil e fluido. Flexível e vital. O ar que é o sopro da vida, a permissão à reencarnação. O ar que contorna montanhas infalíveis, mas também vai a desgastando. O ar que alimenta o fogo, mas que também pode apagá-lo. O ar que movimenta ondas revoltas, mas que também pode amansá-las. Ar que é o caminho do som, sejam músicas, risos, palmas etc.
Assim, Oxum está na cachoeira e no mar, mas não na água em si, está nos estrondos de queda e quebra. Oxum está nos rios pelo vento que corre sinuoso pelos vales. Está nos sons da natureza.
No que se refere a manifestação de Oxum no Centro Espírita Cabocla Jurema ela, em regra, se apresenta na forma de Crianças, os chamados Ibejis ou Erês, numa nomenclatura de origem africana ou ainda Yori³, numa denominação típica da Umbanda Esotérica de Mestre Matta e Silva. Por favor, prestem muita atenção no que foi dito! Oxum, em regra, apresenta-se como criança em atenção ao padrão de formas de manifestação admitida dentro da doutrina do Tríplice Caminho, a qual o terreiro Cabocla Jurema se filia.
Não queremos aqui estancar o entendimento, mas só a título de compreensão e para citarmos questões que veremos em outros capítulos, é possível uma entidade de Oxum se manifestar como caboclo ou preto velho. Só que, em regra, elas o fazem como Criança. A existência de um padrão é percebido em outros Orixás: Orixalá, Xangô, Oxossi, Yemanjá e Ogum, em regra, se apresentam na forma da vitalidade dos Caboclos; já Omolu se apresenta, em regra, com a paciência dos Pretos Velhos. A existência de uma regra não impede as exceções! O importante é entendermos que, na Casa Cabocla Jurema, não se deve deduzir o Orixá vinculado a entidade simplesmente porque ele chega batendo palmas ou porque ele se corcunda.
Ainda sobre a manifestação imperante de crianças, quando o guia é vinculado a Oxum, temos que isso ocorre muito em parte porque a criança é a própria simbologia da oportunidade e geração, afinal, nossa encarnação é uma dádiva para que cultivemos novas relações. Além do que, pela intensidade com que vibram estes espíritos, sua agilidade argumentativa, efusividade gestual e pela alegria com que se expressam e a todos envolvem com sua conversa “infantil”, essa roupagem fluídica é a que melhor se amolda ao jeito Oxum de ser: a própria manifestação do ar.
Vejamos como que os Yoris mostram que é possível ser sensual sem ter qualquer apelo ao sexo?!
Numa concepção astrológica de Umbanda Oxum representa-se, por tudo que foi exposto, pelo planeta Vênus (que tem esse nome em alusão à deusa Romana).
Na prática ritual do Terreiro Cabocla Jurema sua cor de referência é a amarela, em alusão ao ouro e a rosa, em referência à “inocência” das crianças.
Salve Oxum! Alodê! E que Mamãe de Mitã nos proteja! Saravá!
Goiânia, 19 de março de 2017.
(¹) Atenção! Apesar de a Orishá Osún, as deusas Afrodite e Vênus serem expressões no feminino, a manifestação de Umbanda de Oxum não tem esse limite, pois geração, oportunidade, criatividade e envolvimento são atributos de Tupã ao alcance de todos nós, seus filhos, alcançando homens e mulheres.
(²) Disto, esperamos ter respondido uma questão que poderia vir no sentido de como a “sensualidade” pode ser algo que emane de Deus(?). Agora, para aprofundar nesse quesito necessitaríamos promover uma análise histórica de como no decorrer dos séculos foi poluindo o entendimento mais amplo sobre o tema. Este problema é típico do raciocínio Judaico-cristão que, promovido pela Igreja, condenou o sexo como algo impuro. Observa-se isto desde a narrativa do pecado original de Adão e Eva no paraíso, que culminou na expulsão de sua descendência e lançou sobre a mulher, a “fonte da tentação”, a obrigação da castidade e condicionou o sexo a uma função meramente reprodutiva. Temos também como parte deste entendimento a defesa bíblica de que Jesus, o Deus vivo, só foi concebido pela intervenção do Espírito Santo e para isso, Maria de Nazaré precisava ser virgem, um sinal de pureza. É nisso que fundamenta-se, também, a castidade de Jesus e a refutação total a qualquer menção de que fora ele casado com Maria de Madalena, pois se o fosse seria um impuro, com base nesta interpretação limitada do sexo e sensualidade. Hoje a ciência já traz diversos estudos sobre a importância do sexo na vida das pessoas, seja na autoestima como na saúde como um todo.
(³) Mais detalhas sobre o entendimento atual do terreiro Cabocla Jurema não mais entender Yori como Orixá, assim propriamente dito como entende a Umbanda Esotérica, serão mais profundamente abordados num outro capítulo.
NOTA DO AUTOR. Muitos terreiros entendem que os ventos são manifestação de Inhansã/Oyá. O Centro Espírita Cabocla Jurema não entende desta maneira, pois o que se denomina por Oyá não constitui, para nós, um arquétipo distinto que se conecte claramente com um dos chácras ou um dos planetas a ponto de enquadrar como uma das sete linhas de Umbanda. Ficamos, nesse ponto, com a definição apresentada pelo venerável Mestre Matta e Silva, na obra Umbanda de Todos Nós.
Meu Deus, que blog maravilhoso, agradeço imensamente pelo conteúdo!
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