Neste momento, em Madri, são 1:02h da manhã.
E eu não consigo dormir. Aparentemente, não existe nenhum motivo. Só fiquei enrolando, enrolando... e quando, finalmente, resolvi dormir, o sono não veio.
Comecei a pensar incessantemente no Blog. E veio uma ideia: quem sabe uma página do Blog no Facebook? Ou seria melhor no Instagram?
Sim, mas e o Blog?
Eu tentei me ignorar. Mas não consegui. Eu preciso escrever. E não tenho a menor ideia do que escrever!!
Preparemo-nos, este post está sem destino!
Bom, este mês, eu me dei conta de que tenho pouco mais de um ano de diagnóstico de Esclerose Múltipla. Parece que tem tanto tempo!
Mas eu me lembro de quase tudo. Detalhes.
Eu me lembro de pensar: eu vou morrer. E ainda assim manter a calma.
Eu me lembro de estar no auge dos sintomas e sentir minha boca ficar dormente. Até um ponto em que eu quase não sentia o sabor da comida. Eu fui jantar na casa da minha mãe. Ela tinha feito uma comida maravilhosa e eu estava ansiosa pra comer. Tive que mastigar apenas de um lado, pois era onde eu quase podia sentir o sabor. E no dia seguinte, com tanta coisa acontecendo, desci para comprar um chocolate (claro!) para desanuviar. Eu não senti o gosto. Eu chorei. Muito. Foi a única vez que eu chorei por causa da doença.
Eu me lembro de chegar um dia na acupunturista e ela me perguntar na porta:
- Oi, como vc está hoje?
E eu, entrando, respondi como responde alguém que está contrariado pela notícia de previsão de chuva:
- Mais ou menos... parece que estou com suspeita de EM.
Eu me lembro de não conseguir segurar o sabonete devido ao tremor das mãos. Escorregava muito! rs
Eu me lembro de estar rindo com minha mãe no carro porque o meu braço tinha uns "tiques" e ficava pulando enquanto estava repousado na minha barriga e de dormir no chão do quarto dela para não ficar sozinha. Ela tem um colchão muito mole! rs
Eu me lembro de ficar envergonhada por dormir mais de 15h por dia e não ter forças para explicar que eu estava com muito sono; lembro do Tiago me acordar 2 vezes ao dia para comer uma fruta antes de tomar os remédios e lembro de, às vezes, o ouvir fazendo as coisas da casa.
Eu me lembro dos olhares das pessoas, de dó ou susto; das amizades temporárias que fiz; das comidas deliciosas que minha mãe me levava para comer. Eu me lembro da vendedora da loja que ficou minha amiga e que ainda pergunta como estou quando volto lá.
Eu me lembro dos meus amigos da faculdade passarem o Carnaval no Rio de Janeiro e mandarem fotos, enquanto eu pensava: maldita labirintite!
E eu me lembro de cada pessoa que me desapontou e de cada pessoa que foi magoada pelo meu diagnóstico.
Mas eu não me lembro das datas.
Com exceção do dia em que começou tudo, 7 de fevereiro de 2016, eu não consigo lembrar de uma única data: primeira consulta, exames, primeira injeção, remédios, etc.
A sorte é que tenho tudo anotadinho nas minhas coisas lá em Goiânia.
Depois do dia 07/02/16, eu passei muitas coisas.
MUITAS!
E eu não consigo pensar em nada que eu gostaria que tivesse acontecido de maneira diferente.
As pessoas pensam que gosto de me exibir com a EM.
Mas a verdade é que eu a carrego como minha galinha dos ovos de ouro. Eu não tenho a intenção de ser melhor que ninguém, de me passar por santa, de dar lições de vida ou de me fazer de vítima. Não.
Mas eu quero e vou afirmar, quantas vezes puder, quantas vezes eu sentir necessidade: a minha enfermidade foi um presente de Deus.
Como Espírita e Umbandista, como Cristã, eu sei que Deus nos dá grandes provas quando necessitamos saldar grandes dívidas. E eu sei que, apesar de sermos pouco merecedores, Ele nos dá e dará quantas chances precisemos para nos redimir.
Eu também sei que, sem a EM, eu não seria metade do que sou hoje.
Não que eu seja grande coisa, mas quero crer que avancei em minha caminhada, em minha Reforma Íntima. Por isso, eu tenho orgulho, sim, de ser Esclerosada. De ter navegado de forma digna por estas águas turbulentas. De, através deste caminho, ter me tornado instrumento da Paz de Cristo. E, de hoje, ter um coração cheio de amor e gratidão.
Àqueles que um dia eu feri durante a minha caminhada, antes, durante e/ou depois da EM, dirijo o meu mais profundo pedido de Perdão. Saibam que também tenho trabalhado esse conceito firmemente em mim.
Não tenho dúvidas, meus irmãos, que a falta do Perdão, foi um dos grandes motivos de eu ter chegado à porta dessa enfermidade. Ainda travo batalhas com o ego e com o rancor. Mas, mais uma vez, quero crer que estou caminhando na direção certa.
Que a Paz do Nosso Mestre Jesus Cristo
E o Amor de Nosso Pai Maior, Deus, esteja conosco.
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