sábado, 24 de junho de 2017

Da Esclerose ao Perdão

Neste momento, em Madri, são 1:02h da manhã.
E eu não consigo dormir. Aparentemente, não existe nenhum motivo. Só fiquei enrolando, enrolando... e quando, finalmente, resolvi dormir, o sono não veio.

Comecei a pensar incessantemente no Blog. E veio uma ideia: quem sabe uma página do Blog no Facebook? Ou seria melhor no Instagram?
Sim, mas e o Blog?

Eu tentei me ignorar. Mas não consegui. Eu preciso escrever. E não tenho a menor ideia do que escrever!!
Preparemo-nos, este post está sem destino!

Bom, este mês, eu me dei conta de que tenho pouco mais de um ano de diagnóstico de Esclerose Múltipla. Parece que tem tanto tempo!
Mas eu me lembro de quase tudo. Detalhes. 

Eu me lembro de pensar: eu vou morrer. E ainda assim manter a calma.

Eu me lembro de estar no auge dos sintomas e sentir minha boca ficar dormente. Até um ponto em que eu quase não sentia o sabor da comida. Eu fui jantar na casa da minha mãe. Ela tinha feito uma comida maravilhosa e eu estava ansiosa pra comer. Tive que mastigar apenas de um lado, pois era onde eu quase podia sentir o sabor. E no dia seguinte, com tanta coisa acontecendo, desci para comprar um chocolate (claro!) para desanuviar. Eu não senti o gosto. Eu chorei. Muito. Foi a única vez que eu chorei por causa da doença.

Eu me lembro de chegar um dia na acupunturista e ela me perguntar na porta:
- Oi, como vc está hoje?
E eu, entrando, respondi como responde alguém que está contrariado pela notícia de previsão de chuva:
- Mais ou menos... parece que estou com suspeita de EM.

Eu me lembro de não conseguir segurar o sabonete devido ao tremor das mãos. Escorregava muito! rs

Eu me lembro de estar rindo com minha mãe no carro porque o meu braço tinha uns "tiques" e ficava pulando enquanto estava repousado na minha barriga e de dormir no chão do quarto dela para não ficar sozinha. Ela tem um colchão muito mole! rs

Eu me lembro de ficar envergonhada por dormir mais de 15h por dia e não ter forças para explicar que eu estava com muito sono; lembro do Tiago me acordar 2 vezes ao dia para comer uma fruta antes de tomar os remédios e lembro de, às vezes, o ouvir fazendo as coisas da casa.

Eu me lembro dos olhares das pessoas, de dó ou susto; das amizades temporárias que fiz; das comidas deliciosas que minha mãe me levava para comer. Eu me lembro da vendedora da loja que ficou minha amiga e que ainda pergunta como estou quando volto lá.

Eu me lembro dos meus amigos da faculdade passarem o Carnaval no Rio de Janeiro e mandarem fotos, enquanto eu pensava: maldita labirintite!

E eu me lembro de cada pessoa que me desapontou e de cada pessoa que foi magoada pelo meu diagnóstico.

Mas eu não me lembro das datas.
Com exceção do dia em que começou tudo, 7 de fevereiro de 2016, eu não consigo lembrar de uma única data: primeira consulta, exames, primeira injeção, remédios, etc.
A sorte é que tenho tudo anotadinho nas minhas coisas lá em Goiânia.

Depois do dia 07/02/16, eu passei muitas coisas.
MUITAS!
E eu não consigo pensar em nada que eu gostaria que tivesse acontecido de maneira diferente.

As pessoas pensam que gosto de me exibir com a EM. 
Mas a verdade é que eu a carrego como minha galinha dos ovos de ouro. Eu não tenho a intenção de ser melhor que ninguém, de me passar por santa, de dar lições de vida ou de me fazer de vítima. Não.
Mas eu quero e vou afirmar, quantas vezes puder, quantas vezes eu sentir necessidade: a minha enfermidade foi um presente de Deus.

Como Espírita e Umbandista, como Cristã, eu sei que Deus nos dá grandes provas quando necessitamos saldar grandes dívidas. E eu sei que, apesar de sermos pouco merecedores, Ele nos dá e dará quantas chances precisemos para nos redimir. 

Eu também sei que, sem a EM, eu não seria metade do que sou hoje. 
Não que eu seja grande coisa, mas quero crer que avancei em minha caminhada, em minha Reforma Íntima. Por isso, eu tenho orgulho, sim, de ser Esclerosada. De ter navegado de forma digna por estas águas turbulentas. De, através deste caminho, ter me tornado instrumento da Paz de Cristo. E, de hoje, ter um coração cheio de amor e gratidão.

Àqueles que um dia eu feri durante a minha caminhada, antes, durante e/ou depois da EM, dirijo o meu mais profundo pedido de Perdão. Saibam que também tenho trabalhado esse conceito firmemente em mim.

Não tenho dúvidas, meus irmãos, que a falta do Perdão, foi um dos grandes motivos de eu ter chegado à porta dessa enfermidade. Ainda travo batalhas com o ego e com o rancor. Mas, mais uma vez, quero crer que estou caminhando na direção certa.

Que a Paz do Nosso Mestre Jesus Cristo
E o Amor de Nosso Pai Maior, Deus, esteja conosco.

































quinta-feira, 15 de junho de 2017

Toledo e Barcelona, um post mais que atrasado!

E aí, gente?

Como de costume, estou sumida... 
É o que eu disse no começo do blog: não sou blogueira porque não consigo ser assídua. 😅

E por isso, hoje, mais uma vez, vou fazer um post com um monte de coisas!

Bom, os últimos posts foram sobre Amsterdã e Ogum. Vamos partir daí!

🏰 TOLEDO

No dia 4 de junho fomos à uma cidadezinha chamada Toledo, aqui na Espanha mesmo. 
É uma cidade pequena, medieval e encantadora. Com influências dos Romanos, Alanos (povo com origem iraniana no nordeste do Cáucaso), Visigodos (um dos dois ramos em que se dividiram os Godos, um povo germânico originário do leste europeu, sendo o outro ramo os Ostrogodos), Muçulmanos, Judeus, e Indígenas (de religião cristã e pagã), Toledo foi centro de tensão étnica e religiosa, além de muitas revoltas que envolviam todo o centro-sul da Península Ibérica. Com grande peso político, social e eclesiástico, a cidade enfrentou inúmeras guerras, invasões e reformas.
As minhas dicas para quem visita a cidade são:

  • Visitar os monumentos religiosos, como a Sinagoga de Santa María la Blanca, a Sinagoga de El Tránsito, a Mesquita de Cristo de la Luz e a Catedral de Toledo;
  • Visitar a casa Museu do pintor El Greco;
  • Vá até a Puente de Alcazar, ande por todo o perímetro e saia da cidade para vê-la por fora. É magnífico!


Raíssa, Valentina, eu e Tiago na Catedral de Toledo na frente da Catedral de Toledo
(Foto super criativa da Raíssa Furtado)


Entrada do museu El Greco



Vista de Fora da cidade

BARCELONA

Certo, nossa outra viagem foi para Barcelona. E como bem disse o meu irmão: "Barcelona é amor." 💖

Fomos dia 6 de junho, terça, e voltamos dia 11, domingo. De ônibus, que é mais barato! 😏
Uma coisa muito legal foi: meu pai e a noiva dele estavam lá, então podemos matar um pouco a saudade!
Duas coisas não legais: 1) Mais uma vez, não planejamos um roteiro (não façam isso, ok?); 2) Meu pai e a Sol têm um ritmo mais light e eles estavam lá desde uma semana antes, batendo pernas no ritmo de turistas, portanto, já um pouco cansados.
Mas enfim, foi M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O!
E aí vão minhas dicas:
  • Se vc não AMA arte e não AMA Dalí, não vale à pena ir até Figueres para visitar o Museu de Salvador Dalí. É bem bonito e tals... mas, pessoalmente, a arte dele não me traz nada de bom (pelo contrário!). O museu é "desorganizado" porque não tem uma cronologia e porque a própria arte dele é desorganizada... 😂 Surrealismo, né Migues? Mas essa é a opinião de uma pessoa que gosta de traçar um "plano para caminhar" até em feiras e supermercados. Além disso, fomos de trem: queridos colegas, andar de trem na Europa é caro! O que tira o glamour... rs


O museu com as obras de Dalí (casa vermelha) e o museu de Jóias, desenhadas por ele (casa branca), vistos por fora


A única obra dele que eu de fato gostei: é um imenso salão, com cadeiras nas quais vc pode sentar para contemplar o teto, onde foi pintada esta cena em que ele e sua mulher sobem para o céu. É lindo!

 

Vista de dentro do anfiteatro


Ele desenhava jóias belíssimas, algumas com movimentos! 😍




Tiago, eu, pai e Sol


Mããããssss... é claro que valeu a experiência. Eu gosto de dizer que até para "falar mal", pra falar que vc não gosta, é preciso conhecer!

  • El Paseo de Gracia (em catalão Passeig de Gràcia) é uma das  principais avenidas de Barcelona e uma das mais famosas da Catalúnia, devido à sua importância turística, áreas comerciais, negócios e uma "vitrine" de destacadas obras arquitetônicas modernistas, como as edificações de Antoni Gaudí, Lluís Domènech e Montaner, declaradas como Patrimônio da Humanidade. Nela encontram-se as duas famosas casas de Gaudí: La Casa Milà (La Pedrera) e La Casa Batlló. São belíssimas por fora! Nós não entramos, porque era preciso pagar em torno de 20 euros em cada casa. (Preparem-se: Barcelona é cara e em todo canto há algo maravilhoso para conhecer - e pagar!)











La Casa Milà (La Pedrera)














La Casa Batlló











  • O Parque Güel é outro ponto muito turístico e muito bonito. Para entrar no parque não é preciso pagar. Tem vários lugares lindos pra fazer trilhas, pic-nic, vistas incríveis da cidade, pegar um solzinho, ou se for dos meus, uma sombrinha e tals! Mãããsss... Lembra que Barcelona é turítica, paga e, no geral, cara? Para fazer o percurso de Gaudí, dentro do parque, vc paga, se não estou enganada, 8 euros. Super vale à pena. Aliás, tudo que fizemos, com exceção de Dalí (😃), valeu muito cada centavo de euro... rs.




O famoso lagartíneo



                 Pombinho tomando banho na fonte



  • Certo, aí vc sai do circuito e vai em direção à La Torre Rosa, ainda dentro do Parque Güel. Aqui vc pagaria mais 5,50 euros. Mas aí vem O PULO DO GATO: você pode comprar aqui uma espécie de passaporte. Por 24 euros vc poderá: entrar na Torre Rosa e na Sagrada Família, sendo que nesta última vc terá o direito a um áudio guia (possibilidade de vários idiomas), que eu vou dizer: FAZ TODA A DIFERENÇA! Parece caro? Sim! É caro? Nem tanto... Veja bem: na Sagrada Família, para entrar e ter o áudio guia, vc pagará 28 euros! Vou falar mais sobre isso na próxima dica.

Bom, essa casa foi a residência de Gaudí entre 1906 e 1925. O objetivo inicial de Eusebi Güell, idealizador do parque, era construir um "condomínio fechado" para os burgueses da época. Mas foi um fracasso comercial.  La Torre Rosa foi desenhada para servir como casa-modelo da urbanização, e foi posta à venda imediatamente após a sua conclusão, 1904. Devido ao fracasso, foi adquirida por Gaudí em 1906, que se mudou para lá com seu pai, enfermo, e uma sobrinha, órfã.


O ambiente calmo e perto da natureza pareceu adequado à saúde de seu pai e morar no parque garantiria sua presença constante no "canteiro de obras". Contudo, o pai faleceu poucos meses depois, aos 93 anos, e sua sobrinha 6 anos depois, aos 36 anos. As freiras, que ajudavam nos cuidados com o pai e a sobrinha, continuaram ajudando-o com os serviços domésticos. Exceto com sua alimentação. Gaudí era vegetariano, mantendo uma dieta frugal e fazia questão de prepará-la. À saída de sua casa, havia uma imagem de Sto. Antônio, o qual saldava todas as vezes ao sair e ao entrar. Era muito religioso. Em seu quarto havia um genuflexório e um grande terço na parede, onde rezava todas as manhãs. E na casa havia um pequeno cômodo dedicado a pequenas liturgias.



Gaudí permaneceu ali até se mudar para a oficina da Sagrada Família no final de 1925, vindo a falecer em junho do ano seguinte, 3 dias após ser atropelado por um trem.



  • O Templo Expiatório da Sagrada Família... Putz! A Sagrada Família!!! Eu vou me abster de escrever sobre ela. Foi uma das coisas mais lindas que já vi na vida. Aqui vão algumas dicas sobre essa visita que não pode ficar de fora:
- Você não conseguirá comprar o ingresso pra entrar na hora. A visita tem "hora marcada". Aliás, é algo comum em lugares muito lotados, como o Parque Güel. Então, se vc não aceitou a dica acima, vá até a bilheteria e compre sua entrada. Independente de onde comprar (também tem pela internet), não faça como nós que "aceitamos" o horário de 18:45h, só para poder ir no mesmo dia ("O apressado come cru."). Escolha pela manhã (Que também tem a vantagem de ser mais vazio nos primeiros horários. O dia para os espanhóis começa às 9h. Os turistas lotam os locais à partir das 10h) ou no começo da tarde. Para que vc tenha tempo o suficiente.
- O guia da Sagrada Família falou que as pessoas costumam gastar 2h por lá. Mas nós gastaríamos mais. Como foi no fim da tarde, não conseguimos ver todos os anexos da igreja.
- Não deixem de visitar os anexos: sacristia, museu, loja de souvenir, cripta, etc.
- Os ingressos estão à partir de 18 euros (na bilhteria da própria igreja), mas como eu disse antes FAZER A VISITA COM UM GUIA ÁUDIO FAZ TODA A DIFERENÇA. Nada ali é por acaso, e saber o que significa desde a maior até a menor simbologia é estupendo! Também existem os guias (pessoas) especializados nesse tour (exterior e interior da catedral), o que deve ser ainda melhor (também com a disponibilidade de vários idiomas).

Desenhada pelo arquiteto catalão Antoni Gaudí.  O projeto foi iniciado em 1882 e assumido por Gaudí em 1883, quando tinha 31 anos de idade, dedicando-lhe os seus últimos 40 anos de vida, os últimos quinze de forma exclusiva. A construção foi suspensa em 1936, devido à Guerra Civil Espanhola e não se estima a conclusão para antes de 2026, centenário da morte de Gaudí. 
A construção começou em estilo neogótico, mas o projeto foi reformulado completamente por Gaudí ao assumi-lo. O templo foi projetado para ter três grandes fachadas: a Fachada da Natividade, quase terminada com Gaudí ainda em vida, a Fachada da Paixão, iniciada em 1952, e a Fachada da Glória, ainda por completar. Segundo o seu proceder habitual, a partir de esboços gerais do edifício Gaudí improvisou a construção à medida que esta avançava.
Antes de morrer, percebendo que não estaria vivo até o fim da construção, Gaudí deixou tudo, tudinho detalhado de como a construção deveria ficar. Ele também formou uma esquipe de "discípulos" (arquitetos, artesãos, etc) para que dessem continuidade ao seu trabalho.


Fachada da Natividade, que já está terminada


Fachada da Paixão, também terminada


Fachada da Glória, ainda em construção. Será a entrada principal quando a Catedral estiver pronta


"Costas" da Catedral


 Interior da Catedral: 




As pilastras e o teto "imitam" uma floresta


Uma das portas de metal de uma das fachadas feita por um dos escultores, de diferentes nacionalidades, que trabalharam/trabalham no templo


Esta foto é um "brinde" pra ver quem descobre os "sinais" (não é nada dramático, tá?) da Esclerose em mim. Dica: são dois.

  • O Parque de Montjuïc é outra maravilha! Muitos jardins, um Forte e as Fontes mágicas são de encher os olhos. O truque é: subir até o Catillo De Montjuïc de ônibus normal mesmo e desce de teleférico. Fica mais barato. Ooouuuuu vc pode subir a pé... dizem que é sensacional. E eu acredito! Mas para uma esclerosada, uma mega caminhada em baixo do sol (o verão está começando, minha gente!)... boa sorte! E me contem como foi.


Olhem a vista!!


E o morador! 😍


Bom, a descida foi de teleférico. Só a volta, por pessoa, fica 8,20 euros.


Olha o medinho... 😖

E aí, por volta de 21h (sim, vc leu certo!) as pessoas se sentam na grande escadaria para ver o pôr do sol e, por volta de 22h, começa a dança das fontes mágicas!






  • Ah, nós também demos um pulinho na Playa Barceloneta, só pra dizer que molhamos os pés e lavamos nossas guias no Mar Mediterrâneo. Mas se tiverem tempo e vontade, existem praias mais bonitas e menos turísticas (menos cheias! 😏)



Claro que também fizemos outras pequenas coisinhas como nos perder pelo Barrio Gótico e pelas Ramblas, passar pela Catedral de Barcelona que, pelo horário (depois de 22h), já estava fechada, pelas ruínas de uma muralha romana com mais de 2.000 anos e muito mais! 😍


Catedral de Barcelona


Ruínas da muralha romana (olha eu bem miudinha no cantinho inferior esquerdo)


Ah! A gente também trabalhou, né pai?
(Reunião das Salas CIMNE)


E abrasileiramos um pouco num bar brasileiro, com pessoas da APEC


Temos certeza que a cidade tem MUUUITO mais a oferecer do que conseguimos aproveitar nesses dias. Mas foi sensacional! Conhecer esses lugares onde a História aconteceu, e estar com pessoas tão amadas e amantes foi sensacional.

Cara de um, gênio forte do outro! 😂


Como diz a Sol: nossa viagem foi muito Tempouzinho! 💞








Fonte:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Toledo
https://es.wikipedia.org/wiki/Paseo_de_Gracia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_Expiatorio_da_Sagrada_Familia

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Ogum: o Conflito, a Disciplina e, por fim, a Evolução

Olá, pessoinhas!

Passamos uma semana um pouquinho conflituosa por aqui (E eu achando que não se sofria naZoropas... 😂).
Imaginem vcs: morar com os pais, irmãos, namorado (ao), esposo (a) não é fácil. Então morar com pessoas desconhecidas é menos fácil ainda. Agora adicione à essa mistura: pessoas de culturas diferentes + muitas pessoas.
Bom... é isso.

Decidimos por morar agora em outro apartamento. Tomara que desta vez dê certo.
Oremos! 🙏

Mas, para que isso acontecesse, para de fato resolvêssemos sair da nossa zona de conforto e também assumir nossos erros, foi necessário o "conflito". Como dirá o texto a seguir:
"Para qualquer processo de mudança, iniciação de um evento ou de um processo há conflitos para que ocorram os ajustes. Esses conflitos são necessários para que consigamos alcançar um próximo passo."
E
"Não há evolução, sucesso ou progresso sem disciplina e organização."
E tenho certeza que foi e é essa uma das vibrações que tem nos ajudado e nos movido.

Mas de quem é essa vibração?
Ogum, o Senhor da Forja.

E, antes de começar, os tópicos iniciais de praxe:

  • De modo geral, na Umbanda, e especialmente no Cabocla Jurema, não acreditamos que os Orixás sejam deuses, tal como ocorre no Candomblé. Portanto, não os cultuamos de tal forma. Acreditamos que eles são representantes dessas energias/vibrações divinas e se expressam através das mesmas. 
  • Muito gentilmente, o Téo disponibilizou seu email para possíveis dúvidas: teofiloneves@gmail.com. Desta forma, gostaria de pedir a quem fizer uso desta ferramenta que tenha bom senso. Afinal, este também é seu email profissional. De preferência, identifiquem o email em "assunto".
  • Segue abaixo um "mapa" dos 7 Chákras principais e os Orixás correspondentes. Lembrando que a cor na imagem não representa a cor do chákra, mas sim a cor do orixá representante.



LEMBRANDO QUE:

  • Aqui não há espaço para intolerância. Vc pode (e deve!) discordar. Porém, como este não é um espaço para debate, guardemos isto para um espaço conveniente.
  • Perguntas são muito bem vindas (que responderei à medida do que eu conseguir).
  • As práticas e percepções da Umbanda podem variar entre os diferentes terreiros.
  • Os textos aqui divulgados são de autoria de Teófilo Alves Neves que, indubitavelmente é inspirado pela Espiritualidade Amiga e serão transcritos na íntegra como me foram passados.
  • Os textos que serão publicados com este tema não têm o menor objetivo de "converter fiéis". Não acreditamos neste tipo de fé, mas sim em uma fé baseada na razão. O objetivo é divulgar uma Doutrina belíssima, que é baseada na paz, no amor e na caridade, mas que ainda é pouco conhecida e que, infelizmente, sofre com pré-conceitos. 
  • Por não serem textos apenas para os crentes nessa Dourina, é uma fonte interessante para aqueles que querem apenas matar a curiosidade.

E agora, com vcs:



OGUM



Guerra. Confronto. Demanda. Palavras que no contexto da Umbanda são quase que sinônimas de Ogum. Mas como algo divino, direcionado para o bem, por excelência, pode ter tais acepções?

Antes de nos dedicarmos a explicar tal questão, é necessário que façamos nossa costumeira referência aos orishás no culto de origem africana que aportou no Brasil. Ògún é para os cultos de origem yorubana, em princípio, o senhor da forja¹. Isso vincula a ele o ineditismo em ousar, em realizar e aprimorar as coisas de modo engenhoso. É Ògún que entrega aos homens a arte de elaborar ferramentas e armas preparadas pelo fogo e com o ferro. Alguns mitos afirmam que foi ele o primeiro orishá a pôr os pés na terra deste mundo recém-criado, com a finalidade de organizá-lo para semear a vida humana. Lembremo-nos que foi Oshalá quem descortinou as trevas, mas quem se lançou sobre a terra foi Ògún.

Com o passar do tempo o culto ao orishá que manipula o fogo e o ferro agregou sobre a figura de Ògún também a habilidade de guerrear, pois do confronto destes dois elementos se extraem armas de combate: espadas, escudos mais resistentes, pontas de flecha e de lança etc. Assim, a figura de lutador se mostrou mais evidente e vinculada ao orishá que a de ferreiro; e tendo as habilidades de um bom soldado Ògún é forte, destemido, audacioso e enérgico, tanto na defesa como no ataque. Sua
coragem e fúria são incomparáveis. É um vencedor!

São com esses atributos que no sincretismo o orishá foi conectado mais fortemente a São Jorge, o Santo Guerreiro, que em sua história diz que foi um legionário romano e em sua imagem figura enfrentando um dragão. Aqui também há, assim como no sincretismo Jesus-Orixalá e Maria-Yemanjá, um culto muito difundido nos terreiros de Umbanda a ponto de quando se quer representar a figura de Ogum no altar se utiliza da imagem de São Jorge.

Diante de todo esse perfil de Ogum voltemos à questão inicial: o que há de divino em um Orixá que se impõe pela força? De antemão ressaltamos a importância em relembrar que a Umbanda é uma religião sintética, de modo a capturar das doutrinas filosófico-religiosas que a inspiram seus elementos essenciais; assim, nos ensinos do Centro Espírita Cabocla Jurema, Ogum é a vibração planetária da ordem. Não há evolução, sucesso ou progresso sem disciplina e organização. Para qualquer processo de mudança, iniciação de um evento ou de um processo há conflitos para que ocorram os ajustes. Esses conflitos são necessários para que consigamos alcançar um próximo passo.

Vejamos o exemplo do mito sobre a forja de Ogum que ilustra muito bem que para do ferro, duro e sem forma, atingir um significativo padrão de resistência e corte precisa ser aquecido, derretido, fundido, dobrado, batido etc. Repeti-se diversas vezes o mesmo processo para que se tenha a forma desejada. Nada mais é que a disciplina e persistência para atingir as metas, os resultados. A força de Ogum está na disciplina que construímos para chegar em objetivos vitoriosos. A mesma correlação se pode fazer sobre o soldado em defesa ou em ataque: a determinação em atender o comando e a obediência às normas militares é fundamental para o sucesso de qualquer empreitada bélica. Disso é que extraímos que Ogum é a Lei, em sua compreensão prática, os desígnios de Zambi em seu fiel cumprimento. 

Para maior esclarecimento façamos distinção entre a vibração de Orixalá e Ogum. Na primeira maneja-se o objetivo, o direcionamento, o norte; na segunda, concentra-se na disciplina, na organização e na força que nos movimenta a alcançar a meta. Ambas as vibrações trabalham na Lei só que em Orixalá há o seu mandamento e em Ogum a sua efetiva aplicação.

Retomando, para a concretização da Lei necessita-se de muita força, de tal grandeza que é capaz de arrastar o que preciso for para que se efetive, de tal sorte que, quando se impera diante do caos ocorre muita confusão, normalmente fruto da desorganização presente no momento e que precisa desfazer-se para o domínio da ordem. Tal força é tão decisiva e contundente que promove mudanças, verdadeiras
revoluções na vida das pessoas e como, em regra, não alcançamos a dimensão dos mandamentos divinos e durante a demanda achamos que estamos em guerra e que todo confronto é ruim, o que é um equívoco.

Quando analisamos o processo de evolução científica, por exemplo, as principais conquistas se deram em razão da existência ou iminência de um conflito. O confronto exige de nós mudança para nos reposicionarmos diante do quadro grave que nos apresenta. Certamente nas grandes guerras, nas epidemias ou nos desastres que assolam a humanidade há muito do império da vibração de Ogum. Devemos nos atentar que muitos desses eventos são complicações da ação daninha do ser humano pelo mal uso de seu livre-arbítrio, o que não impede que Tupã permita a realização desses eventos para o aprendizado evolutivo ainda exigido num mundo de expiação e prova.

Caminhando para outro estágio de nosso estudo temos que o santuário natural mais afinado para a expansão da energia da vibração de Ogum é o campo. Entendemos como campo as porções mais planas de terra na qual a vegetação imperante é formada por gramas. O que mais destaca o campo é a capacidade de que tudo nele tem propensão para correr e se expandir, seja o vento ou o fogo. Nele não há barreiras ou limites, não a toa era o local ideal de combate para os exércitos mais disciplinados e preparados.

Ogum está fortemente ligado às vibrações ígneas. O fogo é ferramenta contundente de transformação física e astral, funcionando como elemento com alto grau de reforma energética. O fogo desintegra, expande e impulsiona energias. Dar o tom mais adequado é função bem exercida por espíritos finados com a Vibração de Ogum. Há, no entanto, várias manifestações em que movimentam mais outros elementos ou imperam em outros Santuários Naturais. Por isso, existem várias formas de Oguns, que inclusive são popularmente conhecidos: Ogum Beira-Mar (mar); Ogum Rompe Mato (matas); Ogum Megê (cemitérios e hospitais) e; Ogum Yara (rios). Em todos os casos, agem na expansão energética para realizar o choque da mudança, visto que Ogum é a vibração da Lei e da Ordem.

Face ao que foi exposto sobre a vibração, tamanha força e expansividade energética da vibração de Ogum, só encontra correspondência no sistema chácra no Plexo Solar.

Posicionado logo abaixo do fim do osso esterno, bem acima do estômago, é o centro energético responsável por coordenar os processos digestivos, portanto, é o possuidor de verdadeira usina de força de onde nosso organismo físico extrae grande parte da energia para a sobrevivência na matéria em consequência da absorção da nutrição alimentar.

O termo Plexo Solar faz uma referência direta a imagem vista por muitos videntes de que no local brilha uma energia tão forte que mais parece um Sol a se destacar em nosso organismo, assim o é por concentrar-se neste chácra muito conteúdo bioetérico derivado do processo digestivo, mas também por ser nele que se concentra o Poder Pessoal, que define em muito nosso ego e nossa autoconfiança.
Quando nos referimos a bioetérico, falamos da junção das energias orgânicas, vinculadas ao nosso corpo físico, biológico, e da sua contraparte astral fruto das energias absorvidas e dispersas pelo nosso corpo perispiritual, cujo conteúdo envolve também muita energia mental.

A autoconfiança está intimamente ligada à capacidade que temos de fazer valer nossa vontade ante as dificuldades do caminho. Com tal capacidade equilibrada nos mantemos motivados para atender àquilo que nos propomos a fazer, sendo capazes de movermos não só nós mesmos, mas também as pessoas que estão ao nosso redor. Quando bem inspirado é o chácra do otimismo e vibra na cor amarela.

No entanto, o desequilíbrio desse centro energético transforma a autoconfiança em arrogância e em desrespeito quanto à opinião ou vontade do outro. Na outra ponta do problema, quando vibra em baixa energia apresenta-se por submissão, fragilidade e por um sentimento de incapacidade, exatamente pela falta de confiança em si.

Trata-se de um chácra inferior (ver definição nos capítulos anteriores), responsável em manejar bastante conteúdo emocional principalmente os frutos de nossa expansão energética direcionada sobre o que fazer e como realizar as coisas que queremos. É no plexo solar que congregam as energias de nossas alegrias das conquistas e as tristezas das frustrações; local em que ambas as energias em desequilíbrio nos encaminham a tal estado de ansiedade que tendem a atacar nosso
corpo físico engendrando, por exemplo, gastrites e úlceras em seu principal órgão de correspondência.

Tanto o chácra como o Orixá Ogum, seu regente, estão sempre associados ao nosso direcionamento no trabalho de cunho profissional, pois muito do foco para realizarmos as coisas em nossas vidas está vinculado a esta energia que alimenta nossa vontade em vencer e nos mantêm disciplinados e decididos no que almejamos. É uma vibração sempre de intenso e constante movimento.

Numa concepção astrológica de Umbanda Ogum representa-se por Marte, o planeta vermelho, que simboliza potência energética e a iniciativa.

Na prática ritual do terreiro Cabocla Jurema utiliza-se a cor vermelha para representar Ogum em referência à luta e à guerra, conflitos necessários para que Lei de Oxalá se realize.

Portanto, para vencermos as demandas: Salve Ogum! Ogunhê!

Goiânia, 02 de março de 2017.

(¹) 1 Local onde metais, especialmente ferro, são fundidos e moldados e se produzem objetos metálicos; frágua, fundição; 2 Conjunto de fornalha, bigorna, fole e malho, os instrumentos de trabalho do ferreiro; 3 Armadilha com que se apanha caça grande; forje.